[Buscamos um lugar para alugar]

Buscamos um lugar para alugar
naquele clipe alegre de Elton John,
Pasárgada se chama

(o enxofre sobre a terra atinge as grades
do condomínio extremo de mansões,
que agora inflama

em tarde fria e noite sem luar,
quando fogo e silêncio são clarão
do olhar de Xapanã).

Como alterar a rítmica das coisas?
O presente encolhia-se incisivo
num desejo do ausente,

e só mudar é que era o mundo, à toa
fazer um furo no futuro liso
e ali mantê-lo prenhe

(não se muda as pessoas, as pessoas
mudam se tomam tino, ganham siso
enquanto perdem dentes).

Existe aqui um país gasto, exausto:
pedra estanque do tempo distendido,
gesto de quase-pó;

faremos outro tempo neste claustro?
Mudamos de ares, mudaremos disto
que já não nos consola?

A praia resta longe, mero pasto
repleto dessas larvas onde é lícito
fincarmo-nos no agora.

Infecto, ele ressurge e nos conclama,
ampliado, infinito, o só-presente
de agoras sem consolo. E nos devora.

Taxi? We’d rather walk

Suas patas me seguem
quilômetros a fio
nos paralelepípedos

(mancas mas nunca entregues);

se a dor matura o fruto
antes de abrir o gosto
a cachorra é oposta,

exu que não computo
junto aos muros, madura.

Em mim segue-me o cão
que sou ao me perder,
mas se a procuro, não
:
assim deixo de ser
um cachorro de chuva.

Guilherme Gontijo Flores

Guilherme Gontijo Flores (Brasília, 1984) é poeta, tradutor e professor na UFPR. Publicou os poemas de carvão :: capim e avessa: áporo-antígona, e o romance História de Joia, entre outros. É tradutor de Robert Burton, Sexto Propércio, Safo, Calímaco e no momento prepara a obra completa de François Rabelais e os poemas completos de Walt Whitman.

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