[A cada nota]

A cada nota
de Martelo
desponta a Aurora
no Pico d’Antonia
Soltas
Procuram Compasso
às avessas do Verso
Calejados do Ofício
róseos dedos
Afinam trovoadas…

[Da peruca da Onça]

Da peruca da Onça
despencam
fios de Loucura
estilhaços
“hit the ground”
Campos Áridos
germinam Utopias
sementeira em

Colheita de vinhas
P´ras diabruras
d´Baco
Manga madura
N´boca d´inocentes
Ê Pólvora!

[Aroma de alecrim]

Aroma de alecrim
O cão que berra
A lua está OBESA
Avião no terreiro
Haikais saltam da frigideira
Soltou-se um pum em Marte
O Cio está na leoa
As letras estão na mesa
A Mona é uma mina
Os pássaros uivam
Eurípides enamorou-se de Escobar
Os flagelados rumaram ao sul
O Poeta alimenta-se de restos

[Neste CHÃO]

Neste CHÃO
onde MULHERES e HOMENS
semeiam EM PÓ
IDEIAS e UTOPIAS
fintam CORVOS e PARDAIS
Não se pode
VACILAR
no BICO
da enxada
FIRMEZA
DESBRAVAR terreno
enfrentar PEDREGULHO
RASGAR o solo
enterrar a SEMENTE
no ÚTERO da TERRA
SEMEAR em PÓ
REBENTOS
alegres e viçosos
SONHAR
colher o FUTURO
SEMEAR em PÓ

Irlando Ferreira

Irlando Ferreira é mestre em Gestão e Estudos da Cultura e licenciado em Teatro – ramo de Produção Teatral / Cultural, pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Atualmente exerce as funções de Diretor do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design de Cabo Verde. Colaborou com a universidade ISCEE enquanto docente. No campo profissional, trabalhou com o The Antaeus Company – Los Angeles; Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Trindade, Artistas Unidos – Lisboa. Interesses de investigação: Economias Criativas e Gestão Cultural. Autor do livro, “Cabo Verde, Economias Criativas, que Benefícios para o País? – O caso, Atlantic Music Expo Cabo Verde. Na escrita encontra um espaço de expressão poética – que lhe possibilita outras experimentações enquanto “artífice” das artes e da cultura.

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