HISTORIAS D NHA AVO
Improviso

HISTORIAS D NHA AVO

Mi é d um tempo em que ainda tinha classe social
e classe mas olt k bo podia alcança era n quarta
Sendo que é pok é k podia ba p Portugal
Sem pode continua escola solução era na horta
Ma mesmo essim tv parce k Deus k tv da ajuda
Tinha terra e mão d obra Ma nem sempre no tinha chuva
Bo vida t difícil!
Bo deve estod n troça
Um cre oia s bo tv pode guenta vida n um roça
Vida de lomba
Plantação de cacau e café
Vida fora de bo terra
Angola, São Tomé ou n Guiné
Ou mesmo ne CV
Ma época era d fome
Madrugadas era p contrabond e não p estod na son
Famílias que tcheu bocas é que era p alimenta
Crianças po t trabaia
Circunstancias forma amdjers e homs
N um cenário que mort
Era tão fort e temid k é kuas inaceitável bo menta se nome

Mnin
E agora bzot t vive sab
E agora bzot tem tud enquant
Ma mi é d um temp d fome
E k era p bo tem um pão
El tinha k ser amassod p diab

Un sinti na pel fenómeno de evasão
Tcheu vez sodad perta
Noticia dmora ate chegada de um carta
De quem k tinha solução p tal situação
a nao ser limpa lágrimas na cara e embarca
N um barc p encara mort num estrada d sangue
Sem sabe s bo tava volta
pok esperança ma no entant
Sempre t luta contra dificuldade d um pais abandonod
As vez tv parce k n cada caboverdian tinha um Port Grande
por iss que tcheu opta n larga ses terra
Um terra k pok a pok tv t entra em decadência
Ate k uns decidi luta p es 10 puntinha d pedra ptod n mei d mar
E ba pa guerra lura p independência
Uns sigui exemplo d kes 50
Ma uns k guenta es espia escapatória
Migracao foi porta d saída
Dess vez era América, França, Holanda, ots país de Europa era rume p espia melhores condições de vida

Ma no torna independente
Um fca contente independentement de desordem e tristeza k no tinha li dent
Já não bastasse o kk tv t passa k nos gent
Rudiod de pobreza e violência
Ainda es mete problema de partido
Um t fala agora k antes era proibid
Bos converça era controlod e manipulod p um artigo
Kel quarto p ser mas concret
e bo k podia kebral
Snao era pão e bo tv ba para n Ponta de Sol ou Tarrafal
Ma no luta contra sensura
N kel altura
Tcheu jovens po t usa caneta em vez d enchada e machim
P fala sobre situação precária de nos terra nos rua
Rbera Grande, Rbera Bote e tb Rua d Matijim
Um tem certeza k Certeza e Claridade
Foi épocas é k traze um boquedim d claridade
mesmo s era pok é k tv oial
N um temp k suplement enera p corp
Ma sim p intelectualidade k suplement era cultural

Historias da minha avó

Eu sou de um tempo em que ainda tinha classes sociais e a classe mais alta que poderias alcançar era a quarta
Sendo que poucos podiam ir para Portugal
Sem conseguir continuar os estudos a solução era trabalhar nas hortas
Mas mesmo assim
Parecia que Deus não nos dava ajuda
Tínhamos terras, mão de obra mas nem sem sempre tínhamos chuva
A tua vida está difícil!
Deves estar a gozar
Eu queria ver se aguentarias a vida numa roça
Vida dura
Em plantações de cacau ou de café
Numa vida fora da tua terra
Angola, São Tomé ou na Guiné
Ou mesmo em Cabo Verde
Mas a época era de fome
Madrugadas eram destinadas para o contrabando e não para o sono
Famílias com muitas bocas para alimentar
Crianças começaram a trabalhar
E circunstâncias formaram mulheres e homens
Num cenário em que a morte
Era tão forte e temida que era quase inaceitável pronunciarmos o seu nome

Menino
E agora vivem bem
Agora têm tudo
Mas eu era de um tempo
Em que antes de teres um pão
Este tinha de ser amassado pelo diabo

Eu sofri na pele o fenómeno da evasão
Onde muitas vezes a saudade aperta
As notícias demoravam até à chegada de uma carta
De quem não tinha solução para tal situação
A não ser limpar as lágrimas na cara
E embarcar
Num barco para encarar a morte numa estrada de sangue
Sem saber se iriam voltar
Com pouca esperança
Mas no entanto
Sempre lutamos contra a dificuldade de um país abandonado
Que às vezes parecia que em cada cabo-verdiano havia um Porto Grande
Por isso muitos optaram por deixar as suas terras
Terras que pouco a pouco iam entrando em decadência
Até que uns decidiram lutar por essas 10 pedrinhas de terra jogadas no mar e lutar pela independência
Uns seguiram o exemplo dos 50
Mas outras não aguentaram e procuraram outra escapatória
A migração dessa vez foi a porta de saída
Desta vez América França Holanda
E outros países da Europa
Eram um destino para procurar melhores condições de vida

Mas tornamo-nos independentes
Eu fiquei contente
Independentemente da desordem e tristeza que havia aqui dentro
Já não bastasse o que se estava a passar com a nossa gente
Rodeada de pobreza e tristeza que tínhamos aqui dentro
Ainda meteram problemas de partido
Eu falo agora porque antes era proibido
As tuas conversas eram controladas e manipuladas por um certo artigo
O quarto para ser mais concreto
E não o podias quebrar
Porque senão era pau nas tuas costas e ias parar ao Tarrafal ou Ponta do Sol
Mas nos lutamos contra a censura
Naquela altura
Muitos jovens começaram a utilizar canetas em vez de enxadas e machinhos
Para falar sobre a situação precária das nossas ruas
Ribeira Grande, Ribeira Bote e também Rua de Matijim
Eu tenho certeza que a Certeza e a Claridade
Foram épocas que trouxeram claridade
Mesmo sendo poucos que a viam
Num tempo onde o suplemento não era para o corpo mas sim para a intelectualidade
Porque o suplemento era
Cultural

[É mas um doid]
Improviso

[É mas um doid]

É mas um doid
É k t anda n mei des rua
T snha tão olt k tcheu t dúvida s t esisti tal altura
N cada batida k um viaja é um novo aventura
Poc t pode ba traz de nhe loucura
Um t garra n musica e leitura como se es é nhe armadura
Ma
Pok t pode intendem cond um dze es estrada d calçada é nhe passadera vermelh
Nhe quart p uns imundo é nhe mund e nhe mund é um castel
Nhe fund d um gaveta bo t otxa se riqueza é que textos n uns padoce d papel
Um
T vive apart n um mund paralelo
T otcha se liberdade n leitura enquant tcheu t fca preso n un aparelho


N un mund tenebroz
tont cosa um t continua tud na gose
N quart mas olt d nha torre s um espia p olt um t oia fund d posso
Yh man mesmo na lama sempre t snha tem un bom corr
T aproveita oportunidad s um t na lama um t fz esculturas d barro
Sempre t ultrapassa tud crise
E tont k jam ba pa txom k jam prende jujitso
Faixa d nos som agora é pret k bo t sinti cada kick
El é normal noites d txor
Sempre es t isdam lava alma p ot dia levanta amdjor
Tont familiariza ma txon
k um t pode tem um boa noit d son detod n kolker culxom
Ma
Txeu t oia bo cara ma es k t oia bo alma
es k sabe kk tt passa dent d bo backstage
K pé na terra ma un mund do avesso
Súbditos submissos t vive como reis
Ma eis a questão
Bzot sabe o kk tt passa dent d nhe backstage

Problemas é tcheu e nunca un fui bom n matemática
P sabe valor d x pssoa é k é moda incógnita
Luta k unha e dent ma moda s um k tem ded e um t sinti motxa

T contracena n um cenar improprio p brinca
ma no t solta gargalhada e surprende plateias
Ma es k t oia
K lágrimas faze papel d chuva p planta dúvida e ferteliza mas ideias

K traz d curtina
N um mund em ruína
Cond luz tiver pagod será k ainda bo t continua t brilha

Dzem s ja bo supo
Opo p impo contra kes é k t contra bo
Es avalia bo velocidade sem oia dbos d bo capo
Ideias k bo propo es dob sentença sem nunca bo depo
Tosc
Tem impostos
imposte p impostor
Será k bo t dispost a corre n lod opost e
P bo gost fca expost a calod d uns dos destapor

Ma independentement um t continua t ser doid
Ma mi k t da k pedra
Um t da d palavra
Palavra é k t tocob na alma
Enquant nha raiva t mas olt es t dze k p um tem calma

Tcheu inimig pode cre nhe cabeça n fund ma n fund nhe cabeça é nhe pior inimigo
Perant taca a tava d vida stress e tcheu pressa p um descanca um poc é so cond dever tiver cumprid
Estronh ainda um tem sonhe
Ja k um k tem temp p durmi
Um t ranca mal p raiz moda s fosse dent d culmin
Ma n um culminar d cenas é k t abatem um t sinti um batida t bate e t dze descança n mi
Como es k t sinti kk um t senti es t dze k mi é doid
Pk um t snha tao olt k es t perguntam s t esisti tal altura

[É mais um doido]

É mais um doido
Que anda no meio destas ruas
A sonhar tão alto que muitos duvidam que existe tal altura
Em cada batida que viajo é uma nova aventura
Poucos conseguem seguir a minha loucura
Agarro a música e a leitura como se fossem a minha armadura
Mas
Poucos entendem quando digo que esta estrada de pedra é a minha passadeira vermelha
O meu quarto para os imundos é o meu mundo e o meu mundo é um castelo
No fundo de uma gaveta encontras a sua riqueza, são textos em pedaços de papel
Eu
Vivo à parte num mundo paralelo
Encontro a liberdade na leitura enquanto muitos ficam presos num aparelho

Num mundo tenebroso
quantas coisas continuo a desfrutar
No quarto mais alto da minha torre se olho para cima vejo o fundo de um poço
Sim mano, mesmo na lama, sempre sonho ter um bom carro
Para aproveitar todas as oportunidades se estou na lama faço esculturas de barro
Sempre ultrapassando todas as crises
E de tanto ir para o chão aprendi jiu-jitsu
A faixa do nosso som é tão preta que sentes cada kick
É normal, noites de choro
Sempre me ajudaram a lavar a alma para melhor acordar no outro dia
De tão familiarizado com o chão
Que tenho uma boa noite de sono em qualquer colchão
Mas
Muitos vêm a tua cara mas não a tua alma
Não sabem o que se passa dentro do teu backstage
Com os pés na terra, mas um mundo ao avesso
Súbditos submissos vivem como reis
Mas eis a questão
Vocês sabem o que se passa dentro do meu backstage

Os problemas são muitos e nunca fui bom a matemática
Para saber o valor destas pessoas que são como incógnitas
Lutar com unhas e dentes mas é como seu não tivesse dedos e sinto-me desdentado

Contraceno num cenário impróprio para brincar
mas soltamos gargalhadas e surpreendemos plateias

Mas eles não entendem
Que as lágrimas fazem papel de chuva para plantar dúvidas e fertilizar ideias
Que atrás da cortina
Num mundo de ruínas
Quando a luz apagar será que continuas a brilhar?

Diz-me se já suposeste
Opuseste para impor contra aqueles que estão contra ti
Eles avaliaram a tua velocidade sem olhar para baixo do teu capô
Ideias que tu propuseste sentenciaram-te sem nunca depores
Tosco
Tem impostos
Impostos para impostores
Será que estás disposto a correr no lado oposto
Para que os teus gostos fiquem à mercê dos aldrabões
Mas independentemente de tudo continuo a ser o doido
Não arremesso pedras a ninguém
Arremesso palavras
Palavras que tocam a alma
Enquanto a minha raiva cresce, dizem-me para ter calma
Muitos inimigos podem querer a minha cabeça no fundo, mas no fundo a minha cabeça é o meu pior inimigo
Perante os vai-e-vens da vida, stresse e muita pressa, para descansar um pouco só quando cumprir o meu dever
Perante
Estranhos ainda tenho sonhos
Já que não tenho tempo para dormir
Arranco o mal pela raíz, como se fosse dente de leite
Mas num culminar de cenas que me abatem, sinto uma batida que me diz descansa em mim
Como eles não sentem o que sinto dizem que sou doido
Porque sonho tão alto que eles se perguntam se existe tal altura

Rui César

Rui César, rapper, é membro do grupo de hip hop B.T.M.. Cabo-verdiano, nasceu em 1996 na cidade de Mindelo. Rui César já conta com diversos trabalhos musicais nas ruas, entre os quais: um EP, dois videoclips, um single e mais de dez participações em trabalhos de outros artistas. Atualmente está a lançar o seu EP a solo. Para além do rap, Rui César é slammer e apresentador do Spoken Word Mindelo. Faz parte do projeto Rap Educação e do grupo de freestylers, MC’s que se reúnem todos os domingos para praticar a arte do improviso.

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