Antologia brevíssima
pergunto-me se nesta frase cabem todos os teixos da cidade livre de Paris, todas as minhas reflexões acerca da linguagem – a palavra que fecha o edifício da Língua é a mesma que se abre ao domínio do vento – foi então possível cruzar não um mas dois, três, infinitos arco-íris, cada portal e a fruta; desejava pronunciar para ti: ónix, dizer-te que Camille esculpiu “La vague” e três estatuetas de bronze; não saberemos jamais se as águas são fertilidade, deriva. Sonhei com as lixeiras, com a libido do rei ou antes com a ausência de libido no rei, em frente ao lago; sobre a falta absoluta de desejo, numa arte que carece de paixão e só dispõe do cálculo e da estética do cálculo para traçar as linhas mestras do seu ofício. As águas, como uma arquitetura para albergar civilizações, minha irmã! Babel é tempo e Afrodite. Quis um Ganges de palavras e, que terrível a trança que tem por única pega a minha mão e por emblema o vento! é como despertar dum sonho, do corpo, das palavras
Tradução para português José Pinto
Revisão Genaro da Silva
m te perguntá mi mesmo se nesse frase te kabê tude teixos de sidade livre de Paris, tude nhes reflexon assérka de linguagem – palavra eke te ftxa edifísie de Língua é kel mésmo eke te abri a domínie de vente – foi enton pussível kruzá não um má dôs, três, infinite arko-íris, kada portal e kel fruta; m tava desejá pronunsiá pa bô: ónix, dzebe ke Camille eskulpi “La vague” e trêj estatueta de bronze; nô ka ti te bé sabé nunka se águaj é fertilidede, deriva. M senhá ke lixeira, ke libide de rei ou antes k ausênsia de libide de rei, ne frente de kel lógue; sobre falta absolute de deseje, num arte eke te caresê de paixon e tem sô kálkulo e estética de kálkulo p trassá kej linhas mestras de sê ofície. Águas, moda um arkitetura pe albergá sivilizassões, nha ermã! Babel é tempe e Afrodite. M kris um Ganges de palavras e, má terrível transsa eke tem por únika pega nha mon e por emblema vente! é moda despertá dum sonhe, de korpe, de palavras
Traduçon pe kriol Márcia Brito
pregúntome se nesta frase caben todos os teixos da cidade libre de París, todas as miñas reflexións acerca da linguaxe —a palabra que pecha o edificio da Lingua é a mesma que se abre ao dominio do vento— foi entón posible cruzar non un senón dous, tres, infinitos arcos da vella, cada portal e a froita; desexaba pronunciar para ti: ónice, dicirche que Camille esculpiu “La vague” e tres figuriñas en bronce; non saberemos nunca se as augas son fertilidade, deriva. Soñei cos vertedoiros, coa libido do rei ou máis ben coa ausencia de libido no rei, fronte ao estanque; sobre a carencia absoluta de desexo, nunha arte que carece de paixón e só dispón do cálculo e da estética do cálculo para trazar as liñas mestras do seu oficio. As augas, como unha arquitectura para albergar civilizacións ¡miña irmá! Babel é tempo e Afrodita. Quixen un Ganxes de palabras, e ¡que terrible a trenza que ten por empuñadura única a miña mao e por emblema o vento! é como espertar dun soño, do corpo, das palabras
Do livro m-Talá
Não, o paraíso não é a infância, o paraíso é a animalidade; é o paraíso que perdemos
a luz verde, líquida / dos carvalhos, as águas dum rio e o corpo na corrente
dobram-se (as águas, a luz)
nutritivas
durante um verão inteiro, às horas mais quentes, recolhida na galeria, simulei ler As marabillosas aventuras de Antífer, traçava na mesa rotas imaginárias e infusas, aprendia calma, a concentração que envolve o trabalho, a separação do mundo
é assim como um braço que se torna ritmo
nós quase não temos ruínas, toda a nossa produção agrária anterior é uma ruína, mas dos campos não se diz «estão arruinados»; se tivéssemos ruínas, teríamos memória
tenho a cabeça cheia de ruínas
sobre a ruína perfila-se com clareza a História
a ruína é indistinta
abrimos nela uma veia de minério, um curso nas entranhas
um mito limítrofe entre carne e palavra
um mito Eu
memória, instante, de imediato ruína
todas (as antepassadas) somos mais ou menos idênticas
sentimos o trovão da voz no diafragma, o raio do pensamento na abóbada
símias, ampliam a mente
e tu, que me amas.
Névoa, a cadela, continuou a dar voltas à sua impossibilidade de caçar e os esquilos imobilizaram-se impercetíveis na madeira, por isso dirigiu-se até um prado, um dos cavalos espantava de vez em quando as moscas que por instantes revoaram incertas para depois pousarem comodamente no seu lugar de preferência
como este vazio, torre Hölderlin
tu que me acolhes
Babilónia.
2
assim é o poema, um sangue que mantém os mortos afastados, que atrai tudo
o mito – tal como o eu, a memória, a greta, o tempo, a cópula e o sonho – une o inaudito
em direção a uma porta de vidro azul onde os animais são deuses
e implodem.
Tradução para português José Pinto
Revisão Genaro da Silva
Não, paraíse ká é infânsia, paraíse é animalidede; é paraíse ke nô perdê
luz verde, líkida / de karvalie, águas dum rio e korpe na korrente
te dobrá (águaj, luz)
nutritive
durante um veron inter, ne kej ora mej kente, recolhide ne galeria, m fingi kum tava te alê As marabillosas aventuras de Antífer, m tava trassá na mesa rotaj imaginárias e infuse, m tava te aprendê kalma, konssentrasson ek t involvê traboi, separasson de munde
é essim própe moda um brosse eke t vrá ritme
nôs, Kuase k nô ka tem ruína, tude nôs produsson agrárie anterior é um ruína, má de kompe nón se diz «ej t ruinod»; se nô tivésse ruína, no tinha memória
nhe kabessa t xei de ruína
sobre ess ruína t perfila História ke klareza
ruína e indestinta
no abri nel um veia de minérie, um rbera ne intranha
um mite limítrofe entre karne e palavra
um mito Eu
memória, instante, de imediate ruína
tude (antpossode) nôj e maij ou menej idêntik
Nô te sentí truvon de voz ne diafragma, rai de pensamente ne abóbda
símias, t ampliá mente
e bô, eke te gostá de mim.
Névoa, kel kadela, kuntinuá te dá volta à sê impossiblidéde de kassá e kes eskile kamuflá ne medera, por isso el bai pe um prado, um de kej kovole de vez im kuante tava espantá kej moska ke por instantes tave revoá dsuriantadas pe dpuj sentá komodamente ne sij lugar de preferénssia
moda esse vezio, torre Hölderlin
bô eke te akolheme
Babilónia.
2
assim é um poema, um sangue eke te manté morte fóstode, eke te atraí tude
mite – tal moda mim, memória, greta, tempe, kópula i sonhe – te uni ukê ka podê ser uvid
ne diresson dum porta de vidre azul ondê ke bitxe é déuses
e ej te impludí.
Traduçon pe kriol Márcia Brito
Non, o paraíso non é a infancia, o paraíso é a animalidade; é o paraíso o que perdemos
a luz verde, líquida / dos carballos, as augas dun río e o corpo na corrente
préganse (as augas, a luz)
nutricias
durante todo un verán, ás horas de máis calor, recluída na galería, simulei ler As marabillosas aventuras de Antífer; trazaba na mesa rutas imaxinarias e infusas, aprendía calma, a concentración que envolve o traballo, a separación do mundo
é así como un brazo se converte en ritmo
nós case non temos ruínas, toda a nosa anterior produción agraria é unha ruína, pero dos campos non se di «están arruinados»; se tivésemos ruínas teriamos memoria
teño a cabeza chea de ruínas
sobre a ruína perfílase con claridade a Historia
a ruína é indistinta
abrimos nela unha vea de mineral, un curso nas entrañas
un mito linda entre carne e palabra
un mito Eu
memoria, instante, de inmediato ruína
todas (as antepasadas) somos máis ou menos idénticas
sentimos o trebón da voz no diafragma, o lóstrego do pensamento na bóveda
simias, dilatan a mente
e ti, que me amas.
Néboa, a cadela, continuou a darlle voltas á súa imposibilidade de caza e os esquíos inmobilizáronse indiscerníbeis na madeira, logo dirixiuse cara a un prado, un dos cabalos espantaba de cando en vez as moscas que por un instante revoaron incertas para logo pousárense comodamente no seu lugar de preferencia
como este baleiro, torre Hölderlin
ti que me recibes
Babilonia.
2
así o poema, un sangue que mantén á raia aos defuntos, que todo o atrae
o mito —ao igual que o eu, a memoria, a greta, o tempo, a cópula e o soño— une o inaudito
cara a unha porta esmaltada azul onde os animais son deuses
e implosionan.
Do livro Hordas de escritura
Contra os ídolos
Querias
uma palavra
que se olhasse
no seu coração de palavra
que refletisse no seu rosto
toda a beleza do mundo
a sua voz seria a do anjo
como um bramã
comporias um Anna-Viraj
com ele criarias um deus
o sacrifício é um deus
e nutrir-te-ias de glória
2 (política)
Quando todo o governo cesse
quando todas as plumas do anjo caírem
canta agora tu
esta página em branco
3
Nada contém a página
só uma linguagem que a si mesma se contempla e acalma
e se abre para que a digas tu eu
alguém
Tradução para português José Pinto
Revisão Genaro da Silva
Kontra ídulos
Bô krij um palavra
um palavra
eke tava observa el mesmo
ne sê kurasson de palavra
eke tava refletí ne sê roste
tude béleza de munde
sê voz seria moda dum anje
moda um bramã
bô tava fazê um Anna-Viraj
kel bo tava kriá um deus
sakrifísie é um deus
e bo tava nutri de glória
2 (polítka)
konde tude govérne kabá
konde tude pluma dess anje keí
kantá agora bô
esse pájna em bronke
3
Nada tem ness pájna
apenas um linguagem eke te kontempla el méme e kalmá
e eke te abri pê bô dsel bô mim
alguém
Traduçon pe kriol Márcia Brito
Contra os ídolos
Querías
unha palabra
que se mirase
no seu corazón de palabra
que reflectise no seu rostro
toda a beleza do mundo
sería a súa voz a do anxo
como un brâhman
compoñerías un Anna-Viraj
con el crearías un deus
o sacrificio é un deus
e ti nutriríaste de gloria
2 (política)
Cando todo goberno cese
cando todas as plumas do anxo caian
canta agora ti
esta páxina en branco
3
Nada contén a páxina
so unha lingua que en si se contempla e acouga
e se abre para que a digas ti eu
calquera
Do livro Carne de Leviatán
O semeado germina
os hibiscos, os jasmins, as glicínias
trepam as cercas
e as sepulturas
Florescem assim os cadáveres
e a dívida inaudita
então digo-te a ti
«temos que pagar as flores»
e os sinos que são de bronze e mussitam
a respiração, os sonhos
a morte
*
Sonhamos a vida
depois
vivemos os argumentos
no sentido de tramas, urdidura ou labirintos
eram os pássaros
afastaram-se quando chegou a druida para viver na tela nua,
como o voo dos morcegos eram os espelhos do ar
a precisão, a velocidade dificultava afixá-los na retina
dentro dos olhos cria-se a luz
uma cobra branca
vai em direção às imaginações da voz
grámmta
se narras a lembrança
ou aos estremicementos duma mão que as usa
as letras
sendo elas a cinza duma combustão
memória
as musas dançamos para ti
não nos obrigues ao discurso
não nos obrigues à lei
bailamos para ti
para a luz
para o parto
**
Não me lembro da criação do planeta
sim a erva e uma e outra
um território cheio de árvores que sonham a água
e aqui e acolá uma ancestral
à qual sou quase idêntica
mas ela e eu não nos conhecemos
O mais longe da propriedade
o impróprio
isso é a vida
Tradução para português José Pinto
Revisão Genaro da Silva
Semnhode te nescê
hibiske, jasmin, glicínia
te trepá serkas
e sepulturas
Te florejsê assim kej kadaveres
e dívida inaudita
enton m t dzeb assim
«no tem ke pagá kej flor»
e kej sine kê de bronze e mussitam
respirassão, sonhe
morte
*
No sonhá vida
txpuj
no vivê noj argumente
ne sintide de tramas, urdidura ô labirinte
era kej pósse
ej afastá kond dxgá kel druida pe vivê num tela nua,
moda voo de morssége era espelhe de ar
pressizão, velossidade tava dificultá noj de afixes ne retina
dent d´oi te kriá luz
um kobra bronk
te bai ne diresson de imaginasões dum voz
grámmta
se bo te narrá lembranças
ô estremecimente dum mon ek te uzéj
letras
sende ej sinza dum kombustão
memória
musa no te dançá pe bô
ka bo obriga noj à diskursá
ka bo obrigá noj à lei
no te bailá pe bô
pe luz
pe parto
**
Min ke te lembra de kriasson dess planeta
sim kel erva e um e ot
um territórie xei de árvore ek t senhá água
e li e acolá um ansestral
ma kem m te parce justim
má no ke te kuntsê
Ú maj lonje da propriedade
ú impróprio
isso é kê vida
Traduçon pe kriol Márcia Brito
O sementado agroma
os hibiscos, os xasmíns, as glicinias
aganchan os valos
e as sepulturas
Así florecen os cadáveres
e a débeda inaudita
así che digo a ti
«temos que pagar as flores»
e as campás que son de bronce e bisban
a respiración, os soños
a morte
*
Soñamos a vida
despois
vivimos os argumentos
no senso de tramas, urdime ou labirintos
eran os paxaros
afastáronse cando chegou a druída para vivir no lenzo espido
como o voo dos morcegos eran os espellos do aire
a precisión, a velocidade dificultaba fixalos na retina
dentro dos ollos críase a luz
unha cobra branca
vai cara ás imaxinacións da voz
grámmata
se narras a lembranza
ou aos estremeceres dunha mao que as usa
as letras
sendo elas a cinza dunha combustión
memoria
as musas danzamos para ti
non nos obrigues ao discurso
non nos obrigues á lei
bailamos para ti
para a luz
para o parto
**
Non lembro a creación do planeta
si a herba e unha e outra
un territorio inzado de árbores que soñan a auga
e aquí e acolá unha devanceira
á que eu son case idéntica
pero ela e mais eu non nos coñecemos
O máis afastado da propiedade
o impropio
iso é a vida
Do livro Un libre favor
No mês de outubro comprovei
a vibração insuperável das asas dum colibri.
Na raia entre novembro e dezembro
cruzou-se-me nos olhos o azul magnético do guarda-rios Martiño
o antigo alcião dos gregos
e ainda tive a sorte de sentir
como partia as águas do regato à maior das velocidades.
Ontem observei uma coruja alçando o voo
de uma das árvores próximas
secalhar um vido
voava como um tule de majestade e algo tímida
a sensação foi estar na presença de Afrodite.
Ao alisar um lençol para passar-lhe o ferro
soube que toda a nossa vida
desde o berço à cova transcorre envolta em panos,
quando o alento é o derradeiro e se expande no éter
os tecidos voam ao seu redor
acompanham-no na sua marcha e absolvição
por isso podemos pensar.
Vallejo escreveu um poema no qual fala das pirâmides 3 3 3
nele as aves não comparecem
lemos
é o tempo este anúncio de grande sapataria
da morte para a morte
ao virar a página
o tempo tem um medo centopéia aos relógios.
O céu que nos cobre
quando estamos na presença duma deusa
e assistimos ao alçar da coruja é coalhado de estrelas
contemplamo-lo com atraso.
Três, a serpente ensina-nos a mudar de pele
Três, a serpente ensina-nos
que morder uma maçã é compreender as leis do discurso.
Três, Adão conhecia os signos
na sua boca giravam vazios como gira em loop o tempo.
A nossa vida é uma imagem
o voo branco e leve, as trevas espessas
medimos a potência da noite,
por esta causa podemos
Tradução para português José Pinto
Revisão Genaro da Silva
Ne mês de outubre m komprová
vibrassão insuperável de asas dum colibri.
Na raia entre novembro e dezembro
Kruzame ne oi um azul magnético de gruarda-rios Martinho
antigue alcião de gregos
e inda m tive sorte de senti
manera eke tava parti águas dum regate n tud velocidade.
Onte m oiá um kruja te panhá voo
de um árvore próximo
sekalhar um vide
el tava voá moda um tule de majestede e um bokedim tímida
sensação foi estod n presença de Afrodite.
Te alisá um lensol pe passe-le ferre
m sube ke tud nôs vida
dij de bersse atê kova transkorrê ilhod n pone,
kond alent é derrader e el te espandi n éter
kej teside te voá ne sê redôr
te kumpanha-le ne sê marxa e absolvisson
por iss ke no te podê pensá.
Vallejo eskrevê um poema ondê kel t falá de piramides 3 3 3
nele pósse ke t komparessê
no te alê
e tempe é esse anúnsie de grande sapataria
de morte pe morte
ne virar de página
tempe tem um mede sentopéia de orrloje.
Séu ek te kobrí nôj
Konde no t ne presenssa dum deusa
e no te assisti panhada de voo dum kruja e kóia de estrelas
nô kontempla-l ke atrase.
Três, serpente te inxná nôs mudá de pele
Três, serpente te inxná nôs
a mordê um massã e kumpreendê leis de discurse.
Três, Adão tava kuntsê signos
na sê boka tava girá vaziu moda temp te girá em loop.
Nôs vida é um imagem
voo bronke e leve, trevas espessas
nô midi potência de noite,
pe ess kausa no podê
Traduçon pe kriol Márcia Brito
No mes de outubro comprobei
a vibración insuperable das ás dun colibrí.
Na raia entre novembro e decembro
cruzóuseme nos ollos o azul magnético do Martiño peixeiro
o antergo alción dos gregos
e aínda tiven a fortuna de sentir
como partía as augas do regato a maior das velocidades.
Onte observei unha curuxa alzando o voo
desde unha das árbores próximas
se cadra unha avidueira
voaba como un tule de maxestade e algo tímida
a sensación foi estar en presenza de Afrodita.
Ao alisar unha saba para pasarlle o ferro
souben que toda a nosa vida
desde o berce á cova transcorre envolta en lenzos,
cando o alento é o derradeiro e se expande no éter
as teas voan ao seu redor
acompáñano na súa marcha e absolución
por esta razón podemos pensar.
Vallejo escribiu un poema no que fala das pirámides 3 3 3
nel non hai comparecencia de aves
lemos
es el tiempo este anuncio de gran zapatería
de la muerte hacia la muerte
ao pasar a páxina
el tiempo tiene hun miedo ciempiés a los relojes.
O ceo que nos cubre
cando estamos na presenza dunha deusa
e asistimos ao alzarse da curuxa é callado de estrelas
contemplámolo con retardo.
Tres, a serpe apréndenos a mudar de pel
Tres, a serpe apréndenos
que morder unha mazá é comprender as leis do discurso.
Tres, Adán coñecía os signos
na súa boca xiraban baleiros como xira en bucle o tempo.
A nosa vida é unha imaxe
o voo branco e lixeiro, as tebras mestas
medimos a potencia da noite,
por esta causa podemos

Chus Pato
Chus Pato (Galiza, 1955) publicou os livros de poemas Urania (Calpurnia, 1991), Heloísa (Espiral Maior, 1994), Fascinio (Toxosoutos, 1995), Nínive (Edicións Xerais, 1996), A ponte das poldras (Noitarenga, 1996), m-Talá (Edicións Xerais, 2000), Charenton (Edicións Xerais, 2003), Hordas de escritura (Edicións Xerais, 2008), Secesión (Galaxia, 2009), a antologia sonora Nacer é unha república de árbores (Pontevedra, 2011) e Carne de Leviatán (Galaxia, 2013). Premiada e traduzida para várias línguas, a sua escrita manifesta transgressão dos géneros literários e superação do conceito de “poesia”. Convidada para reconhecidos festivais internacionais.