AJÉ-ÒLÓDÙMARÈ
(uma saudação)

Laroyê!

pede no padê ao teu peji
o que pode oh pai pudera
sawo o!

de onde parte teu agbára
bem sabemos
orum!
onje!

traz exu
pai santo o teu axé
kawô kabiecile kawô okê arô okê!

epà aiê
epà oh pai
akag!

epà olorum
etê!

epà akewí – pajé
anauê!

epà oh semba
fulô malcheirosa
se o samba atravessa
yéè!

ouça meu oriqui
de agere nos atabaques
yágò!

Ogunhê!
meu patuá no cachangá
faz zigue-zigue-zá-oh-ê!
yèyé

teu elefante sou
de orum à aiyê
pavão virtuosa – acará
Ô-babá!

epà ògún adjô alákáyé
musaleji
contra o bicar de igún

quebra-mar na voz calunga
contra a vez candonga
tua justiça infinda
salve!

ONDE TODO RISO É RANHURA
          repousa onça mansa em vara curta
que à guisa da acupuntura
          tanto tenta até a fura

vertendo sob sua tez a verve vã
          (mais se aguça cada agulha
no esmeril da própria ira)
          bravata!          leviatã!?

cadela teimando só ladrar à lua relincha
          ante a paz que de si surrupia

ZABELÊ

há dias
adiamos o que
a manhã

há dias
em que o não
digo

há dias
ainda que não
idos

que digo
a manhã não

NO AZUL vastovazio dos olhos
de Rimbaud no retrato a
flor de cada palavra
explode:

mentiras numa
(m e s (m a) s s (a) m o r f a)

– zut!

contra qual tudo q’é
real resiste em
casulo iso-
lado co-
vil

– almalém!

fala | falsea | retine | reluz
fundopiscina em con-
fusão de flores:
afasia

– (des)ventura vã!

visionário visa o contrário à
vista sobre a navalha
do tempo

Lucas Henrique Basilio

Lucas Henrique Basilio (1998) nasceu em Curitiba/PR, Brasil. É aluno do curso de Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Prepara seu livro de estreia.

#001