Pescadores da Ilha Do Sal

Pescadores da Ilha Do Sal de antigamente
Nos seus pequenos esquifes à vela pachorrentos
Bolinando pela costa ao sabor do vento
Ou com a força dos robustos remos
E pescadores da Ilha Do Sal do actualmente
Temerosos e recalcitrantes do amanhã 
De autónomas embarcações enfeitadas 
Com potentes motores a Diesel Yamaha.
Vinham os botes com a proa empinada
A boa fortuna e a fartura sob empoladas velas:
Atum, sargos, espadartes, mariscos, esmoregal…
Vem a popa e proa em linhas paralelas
De quem planta e não semeia.
Quando ainda se juntam aos magotes no areal
Trazem nos lábios nitrosos lamentos 
Do peixe graúdo que escasseia
Na efectiva hecatombe dos grandes pesqueiros
E outros nefastos navios forasteiros.
Em Setembro as naus ganham coloridos artifícios 
No areal há comes e bebes, música e festejos
Em turbas remanescentes da centenária Igreja 
Em honra da Nossa Senhora Dos Navegantes
Pelas enseadas é feito um cortejo galante.
Contudo comummente o céu Lacrimeja
E o mar de outrora opala torna-se insubmisso
No desdém sabático da inveja
Dos Velhos tribunos Deuses Marítimos ciumentos
Exigindo o anual sacrifício…
Mas Indiferentes aos sinuosos redefinitivos avisos 
Meteorológicos das rádios e dos jornais
Atrás do sustento se aventuram tentando
Na alvorada zarpam sempre um ou outro do cais
E depois rotineiramente guarnecida de parelhas de crias 
Há à noitinha algum tétrico vulto indagando
Sobre o paradeiro de mais algum marujo que o povo conhecia
Que foi e não voltou mais…

14/10/2021

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