O pássaro
o pássaro vem baptizar-te
com o nome dos ramos
plantas antigas guardam
a embriaguez maternal
do chão,
voas para lá das palavras
onde se prepara a noite
durante o dia.
se ao longe te arrefecer o
pensamento
lembra-te de regressar
às margens do menino
que percorreste
quando eras líquido
benzido pelas árvores
planta de pedra
a equilibrar a placenta.
Uma sombra quando cresce
Dá vida aos muros
Apazigua o chão
Um grito intacto
Aduba a sua infância
desenha a sede matinal
no fim das árvores
flutua entre os nomes
Para intoxicar calendários
Há sombras que sobem à boca
Outras destilam na memória
Até aos rostos ácidos
Das palavras.

Sara F. Costa
É formada em Estudos Chineses. Publicou até à data cinco livros de poesia original e uma antologia de poesia chinesa contemporânea por si selecionada e traduzida. Tem recebido diversos prémios literários pela sua poesia. É cronista no jornal “Hoje Macau”. Este ano, obteve uma Bolsa de Criação Literária do governo português (DGLAB).