AQUIETAÇÃO INFATIGÁVEL

Procuro o olho obscuro do poema
A levitar no universo estourante
Em que se transforma a linguagem,
Como um fogo prendido nas crateras
Subterrâneas às cosmogonias iniciais
Que atravessam os dedos e palpitam
Na noite imensamente branca do ser,
Enquanto caem as paredes do visível
E anegam os sentidos bosques intactos
Onde os corpos inauguram a realidade,
Suspendidos no fulgor da luz inicial.

INKIETASÃO INFATIGÁVEL

Um te espiá kel oi obskure dess poema 
Te levitá num universe estourante 
Ondê ek linguagem ê transformod, 
Moda um lume prindid ne kratera 
Subterrânea pê kej kojmogonia inísiaj 
Ek te travessa déde e êk te palpitá 
Ne noite imensamente bronk de ser, 
Inkuent te kaí kej pared visível 
E te anegá kej sintid bojke intakte 
Ondê kej korp te inaugurá realidade, 
Sujpendidej ne fulgor de luz inisial.

CHÁ PARA O NEVOEIRO

Para José.

O poema acolhe astros líquidos
entre os seus lábios entreabertos,
acompanha o estalar da linguagem
na brancura indócil da realidade,
inaugura vertigens onde nascem
asas antes de a razão as ocultar
aos olhos fascinados da criança,
acolhida no ritmo inédito da beleza
e a sua comoção subterrânea.

XÁ PÊ NEVOÊRE

Pê José.

Kel poema te akolhê kej astre líkido 
entre sij lábie entreabert,
te akompanha o estalar de linguagem 
ne brankura indosil de realidade, 
inaugurá vertigem ondê kej najsê 
asa antxe ke razão gatxaj
de kej oi fajsinod d´kel kriansa, 
akulhid ne ritmo inédito de béleza 
e sê komosão subterrânea.

Traduson de português Márcia C. Brito

Ramiro Torres

Ramiro Torres é nascido na Corunha, Galiza, 1973, cidade onde reside atualmente. Publicou obra em revistas como Poseidónia e Agália, participando em vários blogues coletivos e na obra coletiva Áncora no alén, com gravuras de divers@s artistas plástic@s e poemas, dedicada à figura de Urbano Lugrís, 2008. Em 2012, saiu o seu primeiro livro individual, publicado dentro do Grupo Surrealista Galego, Esplendor Arcano. Considera que o trabalho da poesia é uma parte do apuramento da condição de ser humano, na procura de contactar com o que o funda e transcende constantemente e que tão só se pode integrar desde o assombro e o intento de libertação de todo condicionamento alheio ao ser.

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