Txon-poesia e seus contributos na ativação da cena cultural contemporânea cabo-verdiana entre 2017 e 2019

Márcia C. Brito
Universidade de Évora

Jair Pinto
Universidade de Cabo Verde

INTRODUÇÃO

Mindelo é palco de grandes eventos culturais em Cabo Verde, como o Carnaval do Mindelo, o Mindelact Festival Internacional de Teatro do Mindelo e diversas atividades que acontecem diariamente. Também é berço de muitas das maiores personalidades da literatura e cultura cabo-verdiana, tais como Cesária Évora, João Vário, Jorge Carlos Fonseca, Manuel Figueira, B.Leza e Sérgio Frusoni. Contudo, o lugar da literatura, da arte e da cultura, especialmente a escrita poética, tem-se mantido com consideráveis dificuldades nesta ilha e no país, facto que tem merecido a atenção de governantes e da classe docente e artística. No seu caráter global, a poesia é uma prática excelente para fortalecer habilidades de escrita, do domínio da linguagem, cultivar um vocabulário robusto e fortalecer o sentido crítico e estético, isto é, o sentido do belo para a vida, além de contribuir para o desenvolvimento global do indivíduo.

Neste artigo pretendemos examinar os resultados obtidos do estudo de caso Viver Poeticamente – Considerações sobre o impacto do txon-poesia 2019 – pesquisa que reflete sobre o projeto txon-poesia, nomeadamente sobre o Festival Internacional de Poesia e Poética em Mindelo, realizado em São Vicente, Cabo Verde, em 2019, tendo como autora Márcia Brito, orientada pelo Professor Jair Pinto. Este estudo de caso avalia o impacto do festival na comunidade de poetas, artistas e participantes que nasceu e prosperou com o projeto txon-poesia; os benefícios das atividades desenvolvidas e os objetivos e princípios do projeto, bem como a sua aplicação no contexto cultural e poético de Cabo Verde.

O projeto txon-poesia surgiu a partir de atividades organizadas pelo poeta e psicólogo português José Pinto com os seus amigos e conhecidos. Sendo que logo de imediato estes lhe solicitaram que repetisse a atividade. Este poeta que já era experiente com atividades de poesia tanto como programador e como participante, baseando-se também nos seus conhecimentos sobre psicologia comunitária, atendeu a essa e outras propostas de atividades. O projeto foi nascendo quase que espontaneamente com e a partir da validação tanto da comunidade, como de artistas, poetas e criativos dos país e do exterior, o que concluímos que se deriva do facto de este projeto surgir da vontade expressa das pessoas e cresceu rapidamente através de uma sinergia entre vários parceiros, rompendo as barreiras territoriais da ilha, do país, abraçando o Brasil, a Galiza, Portugal, o Mali, os Estados Unidos da América, Moçambique, Angola e outros países. Neste contexto, dentro do projeto txon-poesia foram organizados mais de 70 atividades conectadas entre si numa metodologia de educação não formal, durante os seus primeiros 3 anos, em média com uma regularidade de duas atividades por mês, entre concertos, leituras de poesia, conversas, lançamentos, Spoken Word, teatro, oficinas entre outros, com a linguagem poética como base.1 Esses laços foram recentemente celebrados com o lançamento da Revista Txon, que publicou, nas suas duas edições, mais de 60 artistas e poetas de todos estes países acima mencionados.

Estes são os principais motivos para abordarmos esta iniciativa poética, ou seja, neste artigo focaremos-mos primeiro em: contextualizar a cena poética cabo-verdiana numa perspetiva histórica; segundo, em estabelecer o marco teórico que serve de base para txon-poesia e, por fim, examinar o impacto do festival txon-poesia na ativação da cena cultural contemporânea em Mindelo. 

BREVE APROXIMAÇÃO HISTÓRICA À POESIA CABO-VERDIANA 

A cidade do Mindelo está localizada na ilha de São Vicente em Cabo Verde, atualmente é a segunda mais populosa do país, vivendo a maioria da sua população na cidade do Mindelo. Oficialmente foram os portugueses que descobriram a ilha em 1462, mas o povoamento só se tornaria possível 300 anos depois graças ao estabelecimento de um carvoeiro para abastecimento dos navios que passavam pela Baía do Porto Grande em Mindelo. A cidade é formalmente fundada com o nome Mindelo em 1830 e graças ao fluxo de gente e novidades vindas de fora, tornou-se a cidade mais importante do país, contribuindo com cerca de dois terços do rendimento económico total da colónia. A cultura popular mindelense desenvolveu-se num ritmo frenético, nesse fluxo de pessoas, ideias, valores e coisas. Em paralelo, Mindelo começou a presenciar, também, um forte desenvolvimento da cultura letrada a partir de 1880, tornando-se o centro intelectual do país. De acordo com Manuel Brito-Semedo, nesta cidade, foram fundadas: Biblioteca Nacional em 1882, a Sociedade Recreativa Fraternidade, em 1888; a Sociedade Filarmónica de Artistas Mindelenses, em 1889; e o Clube LusoBritanico, em 1894, no que concerne a publicações, a Revista de Cabo Verde em 1899, onde colaboravam muitos dos que viriam a ser os grandes nomes do nativismo e da imprensa cabo-verdiana, como José Lopes da Silva, Eugênio Tavares, e Pedro Cardoso, e ainda  A Liberdade, entre 1902 e 1903; Salve em 1902; A Opinião entre 1902 e 1903 e O Espelho entre 1904 e 1909, (146). Assim, graças ao caráter cosmopolita e personalidade única do povo mindelense, esta cidade torna-se berço de uma boa parte dos poetas cabo-verdianos mais reconhecidos, sendo a poesia uma das expressões artísticas e intelectuais mais importantes do país, pois ela sempre foi a linguagem por excelência de expressão política e social e de denúncia, com uma evolução complexa desde a povoamento das ilhas até a atualidade, adaptando-se e contribuindo ativamente para as principais mudanças no país ao longo da sua história.

Resumo das principais fases da poesia cabo-verdiana

O estudo da poesia cabo-verdiana é dividido formalmente em quatro fases principais: a Pré-claridade, a Claridade, a Certeza e Independência à atualidade. Todas estas fases estão diretamente ligadas ao modo como o poeta, escritor e artista se posicionava em relação ao povo e os desafios que o país enfrentou, entre eles: a pobreza, a exploração colonial e a luta pela independência, bem como as dificuldades que o país enfrentou pós-independência.

Pré-Claridade 
A poesia cabo-verdiana atingiu notável desenvolvimento nos finais do século XIX para o século XX. Esta poesia produzida antes do movimento claridade teve como principais representantes Januário Leite, Eugénio Tavares, José Lopes e Pedro Cardoso e, de acordo com Cabral, se carateriza pelo alheamento em relação ao meio socioeconómico envolvente pois gozavam de boas condições económicas, ignorando as mazelas do povo; a influência da cultura clássica e consequentemente um apego muito grande à estrutura formal da poesia e aos temas clássicos, tais como o amor, o sofrimento pessoal, bem presentes na poesia de José Lopes; o ultrarromantismo de Januário Leite e o patriotismo de Eugénio Tavares (6). Esta fase da poesia cabo-verdiana vai até 1964, marcada pela morte de José Lopes (1872-1962), dando lugar ao movimento Claridade.

Claridade
Numa primeira fase, protagonizada por poetas como Jorge Barbosa, Baltasar Lopes da Silva, Manuel Lopes, Pedro Corsino de Azevedo e António Aurélio Gonçalves, este movimento surge como um movimento temático que põe Cabo Verde e os problemas socioeconómicos e políticos do país no centro das suas preocupações e do trabalho literário, pretendendo trazê-los à “claridade” para encontrar soluções para eles. A democratização da educação só foi possível devido a criação do liceu de São Vicente, dando aos jovens de famílias menos abastadas mais oportunidades de acesso a instrução escolar, logo surgiu um novo grupo de intelectuais e estes não poderiam simplesmente ignorar a situação de Cabo Verde na qual tinham nascido, passando assim a questionar e criticar o estado do país, através de sua poesia, de suas ações políticas e postura desafiadora.

Certeza
No entender de Almada, este segundo momento da Claridade, a chamada geração da Certeza, trouxe um aprofundamento nas questões sociais e políticas de Cabo Verde, “centrando-se na busca das raízes da cabo-verdianidade, interrogação da identidade do ser social cabo-verdiano, bem como da sua cultura e raízes africanas”, comprometendo-se fortemente com a luta pela independência do país. As influências que Mindelo recebia do mundo através do Porto Grande foram cruciais para essa posição dos intelectuais em relação à sociedade e à sua poesia, principalmente com o modernismo brasileiro e, mais precisamente, com o regionalismo nordestino e também as influências do marxismo. Desse modo, o movimento Claridade torna-se um movimento central na constituição e afirmação da poesia cabo-verdiana, influenciando assim direta ou indiretamente quase tudo o que foi escrito ou feito depois, além de ter tido uma influência central na independência do país.

Da independência à atualidade
Após a independência em 1975, observa-se uma crescente deceção, pois a independência não trouxe as mudanças esperadas pelos escritores. Nesse sentido, Secco explica que “após a euforia da independência, no final dos anos 80 e início de 90, a novíssima geração de escritores começou a denunciar o vazio cultural no Arquipélago, além de constatar que a fome e a miséria não foram extintas” (qtd. Silva e Sousa 54). Esta deceção fez nascer um novo fazer poético e “(…) esse novo lirismo se caracterizou por construções meta-poéticas e passou a repensar tanto os caminhos sociais, como os da própria poesia” (Secco, qtd. Silva e Sousa 54). A partir daí, até aos dias atuais, os poetas cabo-verdianos têm-se esforçado para se desprenderem da herança da pré-Claridade e Claridade.2

Isto não quer dizer que o poeta se alienou dos problemas da terra, mas que deixou de dedicar todo o seu trabalho às causas políticas e sociais e passou a comprometer-se também com a individualidade autoral, a forma e com os temas metafísicos e universais. Uma das caras desta nova poesia foi o poeta João Vário, que inspirou as gerações posteriores.

Neste contexto, o surgimento do txon-poesia contribui para que ao mesmo tempo, o poeta não deixe de assumir um compromisso com o território onde nasceu e com a humanidade, tornando-o acessível e igual às outras pessoas, através de conversas participadas e horizontais, do spoken word que reúne poetas e rappers jovens e poetas renomados, oficinas, frequentando as atividades e também mediar o intercâmbio entre os poetas cabo-verdianos e internacionais, pretendendo fazer do poeta não um ser isolado e alienado, mas um ser comprometido com o seu oficio e com o território.

TXON-POESIA E UM NOVO DESPERTAR

O projeto txon-poesia iniciou as suas atividades na cidade do Mindelo a 10 de fevereiro de 2017, de forma experimental, com o nome Povo de Poemas. A partir de 12 de julho de 2017, passa a organizar atividades semanalmente, como Spoken Word Mindelo, conversas, lançamentos, concertos e oficinas no Polo do Instituto Camões em Mindelo – concretamente no Espaço Fernando Pessoa, espaço criado para acolher as atividades do projeto txon-poesia. O espaço foi remodelado e pintado, decorado com objetos reaproveitados e recebeu uma pintura mural, intitulada “As musas não existem”, sendo a Ação Poética Cabo Verde #1 crida no projeto, que é um atividade que pretende levar a poesias ruas através da pintura moral, criada pelos jovens artistas mindelenses Erik Andrade e Gilda Barros. O logótipo do Espaço Fernando Pessoa é criado pelo jovem artista plástico Yuran Henrique. 

Bases teóricas ou o TXON (CHÃO) do projeto

O modelo científico do projeto txon-poesia resulta da convergência de ideias e práticas vanguardistas em literatura e teorias na educação, psicologia e performance, em particular da “pedagogia do oprimido”, a “educação não-formal”, os princípios da “psicologia comunitária”, o conceito antropológico de “não-lugar” e a “teoria do pensamento complexo”. Tal integração só é possível abarcar a partir de uma perspetiva multidimensional e transdisciplinar, já que, como sugere Morin na teoria do pensamento complexo, o pensamento humano não pode ser descontextualizado e nem dividido por áreas, mas antes, hierarquizado e organizado dentro de um contexto natural, na globalidade (Morin 77). 

O pensamento complexo integra os modos simplificadores de pensar, mas recusa as consequências mutiladoras, redutoras, unidimensionais e finalmente ofuscantes de uma simplificação que se considera reflexo da realidade. Daí a abordagem transdisciplinar do txon-poesia, que entende a poesia não apenas como parte da literatura, mas sim como a essência de todas as artes, da filosofia e de tudo o que permite a beleza como forma de viver – viver poeticamente, que só é possível pela abordagem global do indivíduo e do contexto em que este se insere, pois, “é preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo” (Morin 14). 

Este posicionamento é reforçado pela ideia de que “a poesia é para todos” defendida por Tristan Tzara – poeta surrealista e um dos criadores do movimento surgido no início do século XX. Tzara via a poesia como uma força viva que não necessita de escrita para manifestar sua força expressiva, podendo ocorrer sob os mais variados suportes e situações. Assim, as atividades do txon-poesia são produzidas de forma experimental, assentes num modelo educacional não formal. Este modelo foi desenvolvido a partir da “educação popular”, criada por Paulo Freire, que propõe utilizar a arte, neste caso a arte poética, como elemento educacional por excelência. Este tipo de abordagem educacional é, segundo Gohn, aquela que se aprende no “mundo de vida”, via processos de partilha de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas quotidianas (28). Esta modalidade de educação é bastante confundida com a educação informal, mas difere desta última, tal como acontece no txon-poesia, pelo facto de haver processos educativos estruturados e conscientes, fora do contexto escolar. 

Em sintonia com estes conceitos, o txon-poesia procura trabalhar comprometido com a formação geral dos indivíduos, tendo em conta as suas necessidades e desejos através de um currículo mais aberto e flexível num ambiente agradável e de comunicação horizontal. Neste sentido é que entra o conceito de “não-lugar”, definido por Marc Augé como os lugares públicos de rápida circulação, como por exemplo praças públicas, cafés, mercados, aeroportos, onde o objetivo é levar a participação espontânea e natural dos transeuntes, para depois passarem a espaços mais fixos e combinados como bibliotecas, centros culturais, teatros e outros sítios disponíveis, onde se desenvolvem atividades que necessitam de participação mais ativa e crítica e onde as pessoas são integradas. Já nestes locais, a partir de referências como a Pedagogia do Oprimido desenvolvida por Paulo Freire aprofunda-se a intervenção comunitária pelo teatro, pela poesia, pelas artes plásticas, e pelo diálogo crítico e horizontal, para empoderar a comunidade na construção da sua vivência e resolução dos próprios problemas.3 Além de a formar para gerir estas atividades autonomamente, o que, para Freire, significa que “ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (Freire 73).

No sentido estético, o txon-poesia inspira-se na estética da poesia contemporânea, que se caracteriza pelo microrrealismo, vitalismo e revivalismo, resultantes do mundo global, esteticizado, composto por interfaces e redes de redes em que vivemos hoje. “Há uma explosão formal que está a atravessar o design do presente e cujos marcos fundamentais estão enraizados, cada vez mais, na expressão plástica, na focalização do corpo e nas ciberpráticas” (Carmelo 96). Além disso, o txon-poesia tem por base alguns princípios da psicologia comunitária aquando das intervenções na comunidade. 

Na visão de Morin, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana (14). A psicologia comunitária é a aplicação da psicologia social, para que numa perspetiva preventiva, se intervenha na comunidade, a fim de melhorar a sua saúde mental e as competências dos indivíduos, através do empoderamento, possibilitando as pessoas resolverem os seus próprios problemas e melhorar a sua qualidade de vida. 

Através da Ecologia, ou seja, o estudo das populações, das comunidades, da biosfera e do ecossistema, a psicologia comunitária tenta compreender os indivíduos, não isoladamente, mas também através da sua relação com o ambiente e dos seres vivos que o cercam e suas influências no mesmo, a fim de um diagnóstico e de uma intervenção eficazes, não apenas no indivíduo, mas na sua comunidade. Daí que as bases científicas sirvam à necessária compreensão teórica, na dialética continua da investigação-ação realizada no txon-poesia. 

Resumindo tudo, a partir de uma abordagem não formal centrada nos conceitos da pedagogia do oprimido e tendo como base os princípios da psicologia comunitária, as atividades poéticas desenvolvidas, procuram surpreender e acolher o público em “não-lugares” e em espaços de encontro, ou seja, devolvendo espaços públicos elitizados à comunidade. A convergência destes conceitos e práticas, através do pensamento complexo, criam uma estratégia de intervenção: contextualizada – levando em conta a estética da poesia contemporânea, as vivencias diárias de cada indivíduo e suas reais necessidades; aproximada e empática – que escuta, e cria o sentido de pertença e fortalecimento; e empoderadora – que visa transformar o indivíduo por completo, tornando-o autónomo e construtor da sua própria realidade. 

Programação regular do txon-poesia

O projeto txon-poesia possui uma programação diversificada, que vai do Spoken Word Mindelo; publicações, conversas sobre variados temas em diversas áreas para a comunidade, artes plásticas e artesanato, espetáculos de teatro, lançamentos, trocas de livros, concertos, oficinas, e outros, que estão sempre abertos a propostas da comunidade, desde que estejam ligados à promoção da arte e da vida poética. A seguir as atividades mais regulares do txon-poesia:

Festival Internacional de Poesia e Poética em Mindelo – é um encontro que se realiza todos os anos em maio e reúne em poucos dias, artistas e poetas cabo-verdianos e estrangeiros, criadores e produtores culturais, envolvendo vários pontos e lugares de Mindelo.4 Na edição de 2019, aconteceu o “pré-txon” que é um conjunto de atividades que antecipam o mesmo e normalmente são oficinas, cujos resultados são apresentados durante o encontro. 

O poeta surrealista e Presidente da República de Cabo Verde Jorge Carlos Fonseca, convidado para abrir a segunda edição do Festival Internacional de Poesia e Poética do Mindelo, deixou a seguinte mensagem em seu discurso:

“É bom ver Mindelo ter um encontro literário permanente a celebrar a poesia. (…) Os livros respiram um novo ar, (…), palavras também tomam um novo fôlego no Spoken Word e noutras iniciativas de ativismo literário e cultural prometidas, (…) todas elas travessadas pela poesia, celebrando o iminente poder de criar mundos fora dos nossos e de tornar mais rica a nossa comunidade.”

Apesar de ser o Presidente da República, um pequeno detalhe que chamou atenção foi o facto de não ter havido diferenciação entre este e outros poetas.

Spoken Word Mindelo – o spoken word consiste numa performance de palavra falada, feita por slammers. Os poetas já existiam antes da escrita. O spoken word começou a ser popularizada durante a década de 80 nos Estados Unidos, devido ao grande desenvolvimento da poesia oral desta época, e nessa década surgiram as primeiras grandes competições de slam poetry. A cultura da palavra falada afro-americana originou-se de uma rica herança literária e musical, com o jazz e música hip hop, o rap, o blues, a musica espiritual e outros estilos. O primeiro Spoken Word Mindelo aconteceu em novembro de 2017 no Espaço Fernando Pessoa com presença do residente do Spoken Word Cabo Verdeslammer do Slam Portugal, Edyoung Lennon. Desde então, o Spoken Word Mindelo tem sido realizado quase todos os meses em Mindelo até à data, mas a diferença relativamente ao Spoken Word americano é que no Spoken Word Mindelo não há competição, o que contribui para que os novatos do grupo de frequentadores que não se consideram slammers e nem o ambicionam não se sintam inseguros para se apresentare, mesmo que lendo poemas de outros autores. Nota-se que Cabo Verde tem uma forte tradição de poesia oral, o que leva a que esta seja uma das atividades preferidas do público. A idade dos participantes do spoken word ronda entre os 17 e ou 75 anos, entre alunos de secundário levados pelos professores a pessoas mais velhas.

Concurso Poetas para o Ano Novo – Concurso nacional de poesia para autores não editados, independentemente da idade, é promovido de dois em dois anos. O resultado é a edição da antologia Poetas para o ano novo que já conta com duas edições, tendo recebido mais de 400 poemas na primeira edição e 130 poemas na segunda edição, de todo Cabo Verde. Na primeira edição foram selecionados seis poetas com uma maioria feminina e na segunda apenas um poeta e uma poeta. Este visa promover a escrita, a poesia e incentivar a valorização do trabalho dos e das poetas de Cabo Verde. Na primeira edição foi feita artesanalmente e foram impressos trinta exemplares, que foram vendidas em Cabo Verde e Portugal. Na segunda edição foi feita pela editora independente Urutau, onde foram impressos 70 exemplares e ainda se encontram disponíveis para compra em Cabo Verde, na livraria La Renaissance em França, e para o mundo todo, através das lojas online da editora Urutau e da Amazon.5

Rainer Maria Rilke afirma que “as obras de arte são de uma solidão infinitas e nada pode atingi-las menos que a crítica. Só o amor pode apreendê-las e guardá-las e ser justo a seu respeito” (19); e Patrícia Lino, afirma, em um artigo publicado na Revista txon, em que diz que “a educação do(a) crítico(a), que trabalha diariamente com a palavra, deveria ser, além de multidisciplinar, empática e humilde”. Estes dois pensamentos ilustram os princípios básicos que guiaram a criação do concurso Poetas para o Ano Novo e a seleção dos participantes.

IMPACTO DO TXON-POESIA NA COMUNIDADE DE MINDELO

Em 2019, com o objetivo de avaliar o impacto do Festival txon-poesia desse mesmo ano na comunidade, analisamos as entrevistas e questionários realizados durante a investigação. Os dados foram recolhidos através de entrevistas feitas a oito artistas, parceiros e organizadores do Festival txon-poesia 2019 enquanto transcorria, com o auxílio de gravadores, eles foram identificados como: E1, E2… e E8. Os questionários foram dirigidos ao público, logo após o festival, através das redes sociais com o auxílio do aplicativo Survey Monkey, ao qual 37 pessoas num universo de em média 300 pessoas que participaram do festival responderam e foram identificadas por Respondente 1, Respondente 2 …. e Respondente 37.6 

As entrevistas foram feitas a partir de perguntas semi-estruturadas, em conversa amena no ambiente tranquilo do festival e os dados recolhidos foram organizados, transcritos, analisados e interpretados. Não sendo possível apresentar aqui toda a análise, apresentarei e comentarei algumas respostas representativas com o perfil de resposta da amostra. Esta análise e interpretação foi organizada nas seguintes categorias, tendo por base as perguntas feitas: (1) Sua relação com a poesia; (2) Importância da poesia para a sociedade; (3) Importância do txon-poesia; (4) Importância da replicação do modelo do festival txon-poesia; (5) Eficácia do método do txon-poesia para a leitura, escrita e criação.7

Todas as pessoas entrevistadas mostram um gosto muito grande pela poesia e algumas delas revelam lidar com a poesia diariamente, tratando-se, em alguns casos, das suas vidas profissionais, como nos casos de E8, E6, E2, e E4, uma vez que são artistas, escritores e performers de poesia e teatro. 

Todos os entrevistados reconhecem a importância da poesia. Como exemplo, E5 respondeu que a poesia é uma via de ideias e de sentimentos e que ela causa em nós um abalo muito mais profundo, quando nos toca e faz-nos pensar em coisas absolutamente essenciais. Este comentário e os outros vêm confirmar na prática o que é defendido nas bases teóricas do txon-poesia, mostrando como a poesia pode ser um meio de mudança e empoderamento. Para falar da importância da poesia, os entrevistados usaram as palavras: comunicar, beleza, denuncia, farol, cura, linguagem, mudança, palavra, imagem, silêncio, magia, sublime, vida, fluxo e mundo. E o sucesso da aplicação destas bases é testemunhada nos seguintes comentários: “o Festival txon-poesia está a fazer história, porque une as ilhas e une as pessoas de certa forma que nunca pensou em ver, as pessoas aprendem umas com as outras, aproximando a linguagem poética e literária de forma muito diferente” (E2); “é um projeto cultural muito inclusivo, e percebo uma preocupação muito grande com a qualidade e também uma preocupação em democratizar a cultura, a arte” (E7). 

Todos os entrevistados apontaram a experiência pessoal como prova da eficácia do txon nestes quesitos. Como no caso de E6 e E8, estes falam que o encontro os incentivou a conhecer novos autores, a escrever e que o txon-poesia proporciona um ambiente de criatividade. Ora, no trabalho de campo confirmou-se que o txon-poesia proporcionou a criação de diversos objetos, poemas e livros inspirados nesta experiência, inclusive a poeta galega Silvia Penas Esteves lançou o seu livro O resto é céu (2021) inspirado na experiência do festival8

Gráfico 1
Questionário: Avaliação do txon-poesia 2019


Por outro lado, os participantes forneceram algumas sugestões e críticas construtivas, como o respondente 12: “Sobretudo mais e melhor divulgação e uma maior ligação ao tecido educativo da ilha”. O festival teve duas edições, portanto essas sugestões foram úteis aos organizadores para repensarem o formato do festival, as parcerias e procurarem melhorias. Depois desse período, observou-se um aumento exponencial das atividades de caráter poético e literário na ilha e no país, com algumas pessoas a dizerem que a poesia estava na “moda” – uma moda boa. Apesar de ter sido interrompido em 2020, o objetivo é voltar a realizar o festival nos próximos dois anos. 

O entrevistado E4 aponta que o maior potencial do projeto está precisamente nessa perspetiva das poéticas, não sendo um evento ligado somente a produção poética escrita, mas sublinha Mindelo como um lugar onde a “poesia germina por todo o lado” (palavras do entrevistado) e chama a atenção para a importância do txon-poesia não perder o seu caráter interdisciplinar.

Do ponto de vista transdisciplinar, constata-se que o projeto, tendo em conta as noções da prática do pensamento complexo, da pedagogia do oprimido, passando pelos princípios da psicologia comunitária, promove e incentiva a relação dialógica, entre a poesia e as outras linguagens artísticas e a própria ecologia na abordagem do ser na sua plenitude. Vejamos mais alguns exemplos na prática: o jovem artista Rui César fez dois slams, improvisados no Spoken Word Mindelo #18 a partir de poemas do poeta cabo-verdiano Arménio Vieira e do poeta português Nuno Moura, criando dois novos poemas, através das obras destes poetas. Na oficina Pé na txon, realizada por Antónia Marques no âmbito do Festival txon-poesia 2019, através do mapa mental da cidade do Mindelo, as participantes mais velhas criaram pinturas com os pés e poesia visual. Na oficina dada por Sílvia Penas, os participantes rescreveram o poema “América” de Allen Ginsberg, a partir das suas próprias vivências. 

Em sintonia com os princípios da psicologia comunitária e dos objetivos da educação não-formal, este projeto poético revela um efeito multiplicador, na medida em que possibilita e prepara a própria comunidade através de diversas oficinas e formações para coordenar as atividades. Como por exemplo: a função de Mestre de Cerimónias do Spoken Word Mindelo, foi delegada de início à jovem atriz Deka Saimor, depois ao rapper Isaías Fortes e agora ao jovem rapper e universitário Rui César. Nesse sentido, também temos o exemplo dos jovens residentes em Santo Antão e Santiago, que levaram as aprendizagens adquiridas no âmbito das atividades do projeto txon-poesia para as suas localidades, como por exemplo o caso dos Laboratórios de Teatro-fórum de Santo Antão, o Spoken Word Ribeira Grande (Santo Antão), Spoken Word Paul (Santo Antão). O jovem poeta Mário Loff usou as aprendizagens adquiridas no festival para enriquecer e dinamizar as atividades da associação literária da qual é presidente, a ATLAS no Tarrafal, ilha de Santiago.

Como não basta apenas criar e promover atividades de poesia, o projeto tem também como um de seus objetivos, recolher, arquivar e produzir investigação referente à poesia cabo-verdiana. Neste contexto, no Spoken Word Mindelo, os participantes são encorajados não apenas a escrever os seus poemas para apresentar, mas também apresentarem poemas de outros autores; recolhem-se poemas para o concurso nacional de poesia para autores não editados; arquiva-se poemas produzidos nas oficinas e enviados aos organizadores para serem divulgados ou lidos através das redes sociais; recolha-se livros de poesia cedidos à biblioteca do txon-poesia, por editoras galegas como a Através Editora e Axóuxere, portuguesas como a Averno Editora, a Douda Correria e a Alambique, cabo-verdianas como a Rosa de Porcelana e outros, doados por particulares.

Promove a participação ativa do público nas atividades realizadas, para o fortalecimento dos laços de pertença às comunidades onde se vive e privilegia a partilha intercultural, privilegiando as culturas lusófonas. Observa-se a preocupação com a inclusão, a partilha e o fortalecimento da comunidade. Nas atividades, este facto é facilmente observado, sendo um dos pontos mais apontados pelos públicos como um dos pontos fortes do txon-poesia. Entre os exemplos destas atividades, destacamos o Spoken Word Mindelo, as leituras de poesia, os espetáculos organizados pelo grupo de teatro txon-poesia, todas frequentadas por uma comunidade heterogénea sob o princípio de que a poesia é para todos.9

No caso da partilha intercultural, txon-poesia já recebeu mais de 20 artistas internacionais que deram oficinas, participaram nas atividades e no Festival txon-poesia (pelo menos 5 artistas e contribuintes internacionais por edição). Neste sentido, E3 relata que o txon-poesia enquanto projeto, consegue reunir pessoas de várias nacionalidades, com diferentes experiências. Para E8, “foi um interessantíssimo intercâmbio intelectual, cultural, pessoal e para Mindelo trouxe a abertura ao mundo, porque isso é a poesia: muitos olhares sobre o mesmo mundo com diferentes direções e unidas pela força da palavra e das imagens”. Atualmente, não só se promove a partilha intercultural, como o projeto tomou uma dimensão intercultural, criando uma forte rede principalmente entre Cabo Verde, Portugal e Brasil, além de promover poetas e artistas destas comunidades no seu site e nas suas redes sociais, pretende internacionalizar o Concurso Poetas para o Ano Novo na próxima edição em 2023.

O concurso nacional Poetas para o Ano Novo tem divulgado poetas cabo-verdianos não editados independentemente da idade, incentivando-os a ler, a escrever, a melhorar e mostrar os seus trabalhos. Alguns dos próprios entrevistados relataram esse efeito neles como no caso de E6: “escrevi como já não escrevia há uns 4 anos, e não conseguia parar” e o mesmo declarou: “Já sinto o txon-poesia bem presente em mim”. E8 afirma que “a mim própria me aconteceu, li muitos livros de escritores e escritoras africanos/as que não conhecia e tive vontade de escrever. Por que não havia acontecer o mesmo a todas as pessoas? As oficinas, as conversas, as apresentações…tudo tem um pulo criador muito forte, sente-se logo o sangue da criação a latejar no ambiente.” E3 e E2 afirmaram que o txon-poesia estimula eficazmente as pessoas a a continuar a escrever e ler ou a começar, e também estimula os jovens a mostrar os seus trabalhos, a editar os seus livros, a encontrar escritores e conseguir realmente inspiração. 

Como participante frequente do projeto txon-poesia, investigadora e co-autora deste artigo, depois de começar a acompanhar as atividades do txon-poesia, passei a escrever mais, e motivei-me para apresentar poemas da minha própria autoria na abertura do festival txon-poesia 2019 e nas sessões do Spoken Word Mindelo. Considero que enquanto aluna de um curso de Educação Artística, consegui uma melhor performance nas atividades desenvolvidas no curso, na medida em que ia aprendendo mais sobre poesia e arte poética nas atividades do txon-poesia, ampliei a sua visão de mundo, ao entrar em contacto com artistas cabo-verdianos e estrangeiros diretamente e tornei-me atriz. Além de ter aumentado o hábito de leitura, passando a ler também poesia. Expandi-me culturalmente, intelectualmente, como participante nas atividades do txon-poesia. Foi durante as atividades do txon-poesia que adquiri grande parte dos conhecimentos e práticas que me permitiram consolidar competências, o que influenciou na atribuição de uma bolsa de estudos de mestrado internacional na área do Teatro, bem como reforçou a minha ética enquanto artista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parte-se do pressuposto teórico de que a poesia é um dos meios mais eficazes para fomentar a noção do belo, a capacidade crítica e de discernimento, os valores éticos e as competências de leitura e escrita. O txon-poesia contribui significativamente para o desenvolvimento do sentido crítico e estético, ao despertar o potencial artístico e poético na comunidade mindelense juntamente com os diferentes países com que está ligado, entendendo a figura de poeta como alguém que atua ativamente dentro e junto da comunidade, mais do que com a sua poesia, através da ação e ética.

Reconhecemos enquanto pesquisadores a extrema importância de se construir projetos sociais e culturais com uma base teórico-científica e metodologia bem estabelecidos, com resultados visíveis e significativos e neste sentido o txon-poesia tem sido um projeto pioneiro em Cabo Verde. O txon-poesia é fruto de investigações nas áreas de pedagogia, psicologia, filosofia, metodologia de projetos, antropologia, semiótica, teoria da literatura, estética e apresenta resultados que confirmam que o txon-poesia contribuiu significativamente para a ativação da cena cultura cabo-verdiana, sobretudo a ativação do saber e do fazer poético reunindo todas as faixas etárias. É do conhecimento geral que esta é a forma de arte mais difícil de ser difundida, por isso consideramos este facto uma proeza, pois considerávamos esta possibilidade uma utopia. Por fim, outra proeza que o projeto conseguiu foi estreitar as relações entre os países que falam a língua portuguesa a partir do continente africano, criando uma comunidade além fronteiras, celebrado na Revista txon, onde se publica em português, em línguas indígenas brasileiras, crioulo cabo-verdiano, bantu-kongo, entre outras.

Desde a pandemia, o projeto passou a ter uma programação maioritariamente online. Nesse período, criaram a Revista txon, realizaram conversas online, participaram em alguns congressos e festivais online como parceiros, participaram em atividades como o TRANSMISSÃO Ciclo de Teatro do Imaginário, de teatro radiofónico com sessões transmitidas via principais rádios de Portugal e Cabo Verde.10 Neste momento, preparam o regresso das atividades mais regulares e presenciais, agora também em Portugal, onde durante o mês de abril de 2022, foi feito o lançamento do #001 da Revista txon, sendo que a última atividade presencial foi o lançamento do 000# da Revista txon em Mindelo. Expandindo o alcance do projeto e aprofundando as suas práticas e conceitos, sentimos grande ânimo neste novo ciclo, num contexto de polarizações, fake news, pandemia e guerra. Mais do que nunca é preciso um chão comum e recuperar a socialização o diálogo olhos nos olhos, não só em Cabo Verde mas em todo o mundo. Esperamos que este projeto sirva de inspiração para mais pessoas e projetos que pretendem fazer a diferença e reaproximar os seres humanos entre si.

OBRAS CITADAS

Brito-Semedo, Manuel. A construção da identidade nacional: análise da imprensa entre 1877 e 1975. Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2006.

Cabral, Amílcar. “Apontamentos sobre poesia cabo-verdiana”. Casa Comum, 1952, http://casacomum.org/ cc/visualizador?pasta=04342.001.004. Último acesso em 23 de outubro de 2019.

Carmelo, Luís. A novíssima poesia portuguesa e a experiência estética contemporânea. Publicações Europa-América, 2018.

Dutra, Neiva. “Tristan Tzara: do caos à orem.” Letras In.Verso e Re.Vers, novembro 9 de 2015, http://www.blogletras.com/2015/11/tristan-tzarado-caos-ordem.html. Último acesso em 3 de janeiro de 2020.

Freire Paulo. Pedagogia do oprimido. 1968. Paz e Terra, 1987.

Gohn, Maria. “Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas.” Ensaio: avaliação das políticas públicas de educação, vol. 14, num. 50, 2006.

Hopffer, Almada. “A poética cabo-verdiana e os caminhos da nova geração” Fragmentos: Revista de Letras, Artes e Cultura, vol. 7/8, 1986, p. 521.

Lino, Patrícia. “Dentro da boca é escuro.” Revisa txon, num. 000, 2020. https://txonpoesia.org/revista-txon/numero-000/patricia-lino/. Último acesso em 3 de janeiro de 2020.

Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. UNESCO, 1921.

Morin, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Sulina, 2005.

Oliveira, Liliane. “A educação não formal como meio de aprendizagem na sociedade atual”. Anais IV CNEDU, https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/35152. Último acesso em 2 fevereiro de 2020.

Rilke, Reiner. Cartas a um jovem poeta. Mododeler, 2014.

NOTAS

  1. De acordo com o Artigo 1º dos Estatutos da Associação txon-poesia, o projeto tem como objetivos gerais e específicos: desenvolver atividades no âmbito da criação artística, tendo como eixo essencial a palavra poética e a sua potencialidade para ser experimentada em articulação com outras áreas artísticas, do ponto de vista transdisciplinar; promover a leitura, a escuta, a escrita e a formação artística e interartes; promover a participação ativa da comunidade nas atividades realizadas, para o fortalecimento dos laços de pertença às comunidades onde se vive e privilegiar a partilha intercultural, privilegiando as culturas lusófonas; recolher, arquivar e produzir investigação referente à poesia cabo-verdiana; editar fanzines e obras de autores.  ↩︎
  2. Estes novos poetas “encontram na obra de João Vário um caso único, que já nos anos 60 apresenta uma obra de caráter universal, intimista, abstracionista e cosmopolita, sendo precursor de um fazer poético que atingiria maior propaganda a partir dos anos 1980” (Silva e Sousa 54). ↩︎
  3. Oliveira refere que a pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá, dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação. Em qualquer destes momentos, será sempre a ação profunda, através da qual se enfrentará, culturalmente, a cultura da dominação. No primeiro momento, por meio da mudança da perceção do mundo opressor por parte dos oprimidos; no segundo, pela expulsão dos mitos criados e desenvolvidos na estrutura opressora e que se preservam como espectros míticos, na estrutura nova que surge da transformação revolucionária. Em suma, “com uma pedagogia “não autoritária”, a pedagogia do oprimido tem como objetivo central a “consciencialização” como condição para transformação social, implicações políticas que transcendem a educação escolar” (Oliveira). ↩︎
  4. O encontro txon-poesia já conta com duas edições, sendo a primeira edição no ano de 2018, no mês de maio, nos dias 9, 10, 11 e 12 na ilha de São Vicente, em Mindelo, e 13 e 14 em Santo Antão na cidade das Pombas. E a segunda edição aconteceu em 2019, no mês de maio, nos dias 16, 17 e 19 na ilha de São Vicente, em Mindelo e, e 20 e 21, em Santo Antão na cidade das Pombas. ↩︎
  5. Para mais informações visitar o website do txon-poesia em: https://txonpoesia.org/concurso-poetas-para-o-ano-novo/ ↩︎
  6. Os questionários podem ser verificados a partir do link: Feedback de Participação no txon-poesia, festival internacional de poesia do Mindelo 2019 – Respostas | SurveyMonkey ↩︎
  7. Os questionários foram baseados nas seguintes categorias, podendo ser classificadas com Excelente; Bom; Nem bom, Nem Mau; Mau; Péssimo e resposta livre na categoria 9: (1) Avaliação do txon-poesia 2019; (2) Organização do txon-poesia 2019; (3) Adequação da infraestrutura do txon-poesia 2019; (4) Limpeza do local do txon-poesia 2019; (5) Prestabilidade da equipa organizadora do txon-poesia 201); (6) Segurança durante o txon-poesia 2019; (7) Obtenção de informações antes do txon-poesia 2019; (8) Probabilidade de recomendar o evento para amigos e familiares; (9) Recomendações e opiniões sobre o txon-poesia 2019. ↩︎
  8. Ver poemas e poemas visuais de Silvia Penas, Sther F. Carrodeguas, Carlos Da Aira e Inês Ramos na Revista txon #000 em: https://txonpoesia.org/revista-txon/numero-000/. ↩︎
  9. Para assistir a algumas atividades, acesse o link de Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCoc5HxUA_-jtOM2rhIE9DPA/playlists. ↩︎
  10. Link: txon-poesia (txonpoesia.org) ↩︎

Ligeiramente adaptado do artigo originalTxon-poesia e seus contributos na ativação da cena cultural contemporânea cabo-verdiana entre 2017 e 2019” publicado na Mester, 51, 2022

Márcia C. Brito

Márcia C. Brito nasceu em Santo Antão, Cabo Verde em 1997. Licenciada em Educação Artística pela Universidade de Cabo Verde e mestre em Teatro pela Universidade de Évora, Portugal. Educadora artística, performer e intérprete. Co-fundadora da Associação txon-poesia e tradutora para kriol na txon, revista de poesia e poética. Dirigiu a performance poética “Uma Vida Inteira” com 50 idosos de e em Arraiolos, Portugal, e “Reviro”, produção do txon-poesia, no âmbito do FITAP – IX Festival Internacional de Teatro e Artes Performativas, 2022. Performer em Árvore da Vida, produzida pela Malvada Associação Artística, 2022.

Jair Pinto

Jair Pinto (Cabo Verde, 1977) nasceu na ilha de Santo Antão. Doutorando em Educação Artística pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (Portugal), trabalha no Ministério da Educação de Cabo Verde desde 1999, integrante de equipas de revisão curricular desde 2008, na conceção/elaboração de programas e guias de educação artística e desenho para o ensino básico e secundário. Professor e coordenador do curso técnico-profissional de Artes e Design Gráfico na Escola Técnica do Mindelo e professor de Educação Artística, em regime parcial, na Universidade de Cabo Verde desde 2012.

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